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A esperança é a última que morre

Quando a Netflix anunciou que estava em conversa com a RAI para uma possível produção de uma live action de Winx Club (O Clube das Winx no Brasil), os fãs da série que cresceram vendo as aventuras do grupo de fadas não poderiam estar mais felizes. Dos que acompanharam desde o princípio a era mais sombria da série, as primeiras temporadas, ao público mais infantil que chegou através das intervenções (muitas vezes indesejadas) da Nickelodeon, o fato é que a ideia de uma adaptação com pessoas reais era um sonho há muito abandonado pelos fãs e que finalmente foi concretizado.

Porém, o medo também era válido, principalmente quando a série realmente foi iniciada e as primeiras notícias preocupantes chegaram. As Trix, o trio principal de vilãs que aparece em quase todas as temporadas e conquistou os fãs por si só, não existiriam na adaptação. Tecna e Flora, duas do sexteto amado por todos, também estavam fora do roteiro e no lugar de Flora recebemos outra personagem chamada Terra. Musa, a única asiática do grupo e basicamente da série inteira, seria interpretada por uma atriz branca e não receberia seus incríveis poderes de música (o que inclusive faz com que seu nome não tenha mais tanto sentido na história).

Mas, bem, sabíamos que por ser uma adaptação nem tudo poderia ser extremamente fiel ao original, isso não era motivo o suficiente para dizer que a série é ruim, não?

Errado. Começa a série e logo de cara percebemos que não estamos mais lidando com o mundo colorido e íntegro de desenho animado. Mais mudanças são feitas, algumas que não afetam tanto o coração quanto outras, como o fato de que os planetas da Dimensão Magix agora são nove países do Outro Mundo ou que os Especialistas têm aula em Alfea assim como as fadas (que na adaptação podem ser tanto do sexo feminino quanto masculino em ambos os grupos). A clara tentativa (spoiler: falha) da Netflix de substituir Shadowhunters – série inspirada na obra de Cassandra Clare, Os Instrumentos Mortais – e resgatar esse público nos traz um mundo jovem adulto obscuro, regado a sexo, drogas e outros elementos preocupantes se lembrarmos que os personagens têm apenas 15 anos.

A história é enrolada, tendo elementos demais jogados na narrativa como “importantes”, e desvia-se totalmente da trama original das Winx que era esperado. Na verdade, a série traz tão poucos elementos originais da animação que o público se pergunta se não era melhor a plataforma de streaming ter criado um seriado totalmente novo inspirado no mundo Winx ao invés de rotulá-lo como “adaptação”.

Acontece que, mesmo que esse fosse o caso, a obra ainda seria ruim. Além da trama e contextos duvidosos, com personagens detestáveis que não fazem jus aos originais amados por todos, a Netflix tenta mais uma vez trazer uma inclusão e diversidade inexistes ao tirar outras minorias de jogo. Afinal, faz muito sentido colocar uma protagonista gordinha e ao mesmo tempo remover a asiática e a latina. Ademais, não existe empatia alguma com os personagens, eles não conseguem te prender, apenas deixar o público em boa parte do tempo com raiva deles com suas escolhas estúpidas e personalidade egoísta e mimada, a ponto de que ninguém se importaria se um ou dois morressem no caminho.

Contudo, como o título dessa crítica sugere, a esperança é a última que morre e nada consegue ser ruim 100% do tempo. Os efeitos visuais e cenários devem ser aplaudidos (apesar da cena da “transformação” de Bloom ter arrancado diversos suspiros de desgosto), e tem muito potencial a ser seguido. Eu particularmente estou bem animada para ver como eles vão retratar outros locais icônicos da série, como o planeta Domino ou o castelo de Solaria.

Entretanto, tendo em vista todos esses pontos negativos e com o final da primeira temporada terminando em um cliffhanger cheio de pontas soltas, ficamos preocupados com a premissa de uma segunda já confirmada pela plataforma. A grande questão se Fate tem salvação continua no ar. Seria a Netflix capaz de dar um final digno à bola de neve que eles continuam a criar? Ou a adaptação deixou traumas profundos demais no fandom devoto das fadas de Alfea? Só o tempo dirá. Esperando que a segunda parte da história siga o mesmo ritmo da primeira, é difícil acreditar que esta seja a última, e isso nos traz aquele medo do que pode sair dessa produção de volta à tona.

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